O que vimos sair da boca do governador da Bahia não foi um discurso político, foi uma ameaça grotesca. Ao dizer que jogaria bolsonaristas numa "vala comum" com uma "retroescavadeira", Jerônimo Rodrigues ultrapassou todos os limites da convivência democrática. Não se trata de metáfora infeliz, mas de uma imagem brutal que remete a ditaduras, a campos de extermínio, a genocídios justificados pelo ódio. Quando um governador fala assim, não fala só por si: fala com a autoridade de um Estado. E quando essa autoridade prega a eliminação simbólica, ou literal, de milhões de brasileiros, o que está em risco é a própria ideia de Brasil.
Silêncio?
A pergunta que se impõe é: onde está a Justiça? Onde está o Procurador-Geral da República, que costuma ser tão rápido para agir contra posts, memes ou frases mal interpretadas nas redes sociais? Por que agora o silêncio? Um chefe de Estado sugere, com todas as letras, o extermínio de pelo menos metade da população brasileira, e não se move um inquérito? Nem uma nota de repúdio? Nem uma advertência? Qual é o critério? Que Constituição é essa que protege uns e desumaniza outros?
Lixos e restos
A democracia não é feita só de eleições, é feita de limites. O adversário não é inimigo, e o povo não pode ser tratado como entulho político. Esse tipo de discurso não apenas ofende quem pensa diferente, ele autoriza a violência. Autoriza o cancelamento, a perseguição, a censura e até o crime. Quando o representante de um estado chama cidadãos de "lixo", "resto", "escória" como se fossem pragas a serem removidas com máquinas, ele desce da cadeira institucional e sobe no palanque do ódio. E isso já vimos antes na história. Sabemos onde termina.
Respeito
Será que, se fosse um governador de direita (Tarcísio - Repúblicano - Governador de SP) por exemplo, propondo jogar petistas numa vala, o silêncio seria o mesmo? A omissão seria tamanha? A democracia vale para todos ou só para os que pensam igual? O povo brasileiro merece respeito, não importa se votou em Lula ou em Bolsonaro. E quem odeia metade do país não está pronto para governar nenhum pedaço dele.
Zé da Flauta é escritor, produtor musical, músico e colonista do: PRESSÃO POLÍTICA E JORNAL 'O PODER'.
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