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A analíse política da jornalista Fernanda Salles sobre o ex presidente Jair Bolsonaro

C. Honci
C. Honci
06/09/2025 23:37 137 visualizações
A analíse política da jornalista Fernanda Salles sobre o ex presidente Jair Bolsonaro
Segundo analíse da jornalista Fernanda Salles a trajetória do ex presidente Bolsonaro revela como a submissão alimenta a ditadura em construção no Brasil.

- Em uma das entrevistas que fiz com Jair Bolsonaro, desta vez no imponente Palácio do Planalto, sentei-me diante do presidente e propus que ele completasse três frases. Uma delas era: "Brasil, ao final do meu mandato, estará…".

Ele sorriu, com uma confiança que eletrizava o ambiente, e respondeu: "Muito melhor do que eu peguei agora."

Apesar dos soluços que pontuavam suas palavras, havia em seu semblante um desejo ardente de cumprir a promessa.

Naquele momento, a esperança parecia ao alcance. Mas ninguém — além de Olavo de Carvalho, sejamos justos — poderia nos preparar para o que estava por vir.

Poucos dias depois desta entrevista, a realidade cravou suas garras quando Dias Toffoli abriu o "Inquérito do Fim do Mundo", o estopim da mais feroz perseguição política já vista no Brasil — um esforço sistemático para esmagar qualquer tentativa de romper o ciclo vicioso de uma República corrompida.

Anos depois, entre incontáveis prisões políticas, perseguições, vozes silenciadas, mortes e arbitrariedades, Bolsonaro se encontra no banco dos réus de um julgamento de fachada. Simbolicamente, sua condenação certa é o recado final aos que ousam desafiar o sistema e "brincar de outsider".

Como reagiu Bolsonaro a essa perseguição brutal? Como Trump, que, no caso do pagamento de "hush money", denunciou o julgamento como "fraudulento" e "uma farsa", chamando o juiz de "corrupto" e o processo de manipulação política? Como Óscar Pérez, que, enfrentando a repressão sanguinária de Nicolás Maduro, ergueu um grito de liberdade e morreu declarando que lutava pelo futuro da Venezuela? Não.

Bolsonaro escolheu outro caminho: a submissão quase absoluta aos seus algozes.

Brincou com Moraes — o "canalha" de 7 de setembro de 2021 virou "meu ministro" em 2025. Isso sem contar que, anteriormente, já havia presenteado o ministro com uma camisa do Corinthians, em um ato visto como tentativa de aproximação com a encarnação do mal.

"Eu não reconheço a autoridade de uma Corte política e ditatorial" deveria ter sido a bandeira de Bolsonaro desde o primeiro momento. No entanto, ele optou por aceitar as regras de um jogo viciado, concedendo legitimidade a um tribunal cujo decano, Gilmar Mendes, declarou abertamente sua admiração pelo regime comunista e ditatorial da China.

Quando o sistema arma-se contra um líder, espera-se que ele transforme a adversidade em força, não que se torne mais dócil a cada injustiça. Mandela fez da prisão um palco de coragem inabalável. Gandhi converteu a opressão em desobediência civil.

Bolsonaro, diante de uma ditadura que se consolidou sob seu governo, optou pela rendição.

Seus aliados mais combativos no Planalto — como Ricardo Salles e Ernesto Araújo — foram abandonados pelo caminho. Araújo, em particular, acabou sacrificado sob a pressão do Partido Comunista Chinês.

Cada movimento posterior — alianças com o Centrão fisiológico, discursos dependentes do mesmo sistema que o persegue — serviu apenas para dar à Corte um verniz de credibilidade imerecido.

Na véspera de seu julgamento no STF, quem o visitou foi Arthur Lira, personagem que simboliza a podridão política nacional. A quem pode interessar Lira, senão a si mesmo e ao poder? Ainda assim, foi esse cacique que Bolsonaro chamou à sua casa, em busca de um acordo desesperado. Ignorando que qualquer pacto firmado sob a sombra de Alexandre de Moraes se desfaz em pó num estalar de dedos.

A perseguição é inegável, mas, ao se ajoelhar diante de seus algozes — os mesmos que há cinco anos perseguem seus apoiadores com a fúria de pitbulls —, Bolsonaro não apenas normaliza a maior farsa da história recente do Brasil como volta esse veneno contra si próprio.

É aqui que a comparação histórica se impõe.

Václav Havel, dramaturgo que se tornaria presidente da Tchecoslováquia, resumiu a essência da coragem política: "Nunca decidimos nos tornar dissidentes. Fomos transformados neles, sem saber exatamente como… Apenas seguimos adiante e fizemos certas coisas que sentimos que devíamos fazer, coisas que nos pareciam decentes fazer, nada mais e nada menos."

Do outro lado da Cortina de Ferro, Aleksandr Soljenítsin, que sobreviveu ao inferno dos gulags soviéticos, alertava: "A linha que separa o bem do mal não passa entre Estados, nem entre classes, nem entre partidos — mas sim através do coração de cada ser humano.” Sua resistência não foi pela política apenas, mas pelo espírito humano diante da tirania.

E, nos dias atuais, na Venezuela, María Corina Machado ergue sua voz contra a ditadura chavista, mesmo diante da perseguição constante, da cassação arbitrária de seus direitos políticos e da ameaça permanente contra sua liberdade.

Machado sintetizou sua luta em uma frase que ressoa como lema de resistência: “Não vamos desistir. Nunca desistiremos, porque é a Venezuela que está em jogo.”

No Brasil, porém, a submissão do próprio presidente dá ao regime a aparência de normalidade, transformando o maior escândalo da história recente do país em um julgamento que aparenta seguir as regras democráticas. Afinal, sua defesa tenta convencer o algoz de que o cliente é inocente. Mas será que o algoz não sabe disso? Ele não está justamente perseguindo a vítima?

Nenhuma defesa se dispôs a deslegitimar o julgamento. Pelo contrário: reforçaram que os trâmites eram legais e que qualquer eventual injustiça contra seus clientes resultaria de incapacidade em provar a inocência, e não de uma perseguição implacável destinada a esmagar toda resistência ao consórcio ditatorial.

Comentei em meu perfil no X algo mais ou menos assim: “Tentar provar para o Supremo que Bolsonaro é inocente é como apresentar ao Comandante das Forças Armadas da Venezuela provas de que Maduro é um tirano psicopata — e esperar que ele prenda o ditador.”

O Brasil replica um modelo de repressão em que medo, censura e manipulação se tornaram regra, e o futuro dependerá não de quem diz "sim, senhor", mas de quem tiver coragem de resistir e denunciar essa farsa.

Por: Fernanda Sales - Jornalista

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C. Honci
Sobre o autor
C. Honci

C. Honci é jornalista, escritor e músico (compositor e ex vocalista da banda de rock Dead Dogs nos anos 70/80). Trabalhou na Revista Confidencial Nordeste - anos 70 - Veja e Isto É anos 80 e 90. Livros escritos "Ponto de Vista A Vida Na Terra" e "POEMAS E POESIAS" . É editor há 25 anos da Revista Vias & Rodovias e Site com o mesmo nome. Atualmente, também editor do Site "Pressão Política"

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