Durante anos, ele reinou. Não havia voz mais alta, nem vontade que lhe fosse superior. Seus dedos moldavam sentenças como deuses moldam tempestades, e cada olhar seu era decreto. Aos poucos, confundiu a toga com uma coroa, a caneta com um cetro, o tribunal com trono. E como todo tirano moderno, começou a acreditar que a eternidade era cláusula pétrea da sua autoridade. Mandava calar, mandava prender, mandava deletar. Quem ousasse discordar, sentia o peso não da justiça, mas da vingança embalada em latim.
Napoleão de boteco
Mas o tempo tem um senso de humor perverso. E justiça, embora atrasada, gosta de fazer entrada triunfal. Hoje, aquele que silenciava se vê cercado pelo ruído que não pode controlar. Um ruído que não vem da imprensa amiga, mas de órgãos que ele não tem como calar. O projeto de poder, aquele que jurava estar blindado, derrete em público como vela diante do sol. É nesse momento que se revela o que há por trás da toga: um homem nu, franzino, apavorado. Um Napoleão de boteco, vendo seu Império ruir antes do café da manhã. Se tudo isso se confirmar nos próximos dias, estaremos diante de um marco histórico.
Baseball
Os amigos, outrora bajuladores de carteirinha, somem como ratos fugindo do porão inundado. O silêncio deles é ensurdecedor. A família, envolvida até os cílios nos caprichos do pai grandioso, agora sente o gosto amargo do vexame. Os que bajulavam estão calados, os que temiam, agora riem por dentro. Nem os assistentes, antes prontos a usarem a criatividade, amarrar o laço da gravata com devoção, conseguem manter os olhos nos dele. A queda de um falso gigante tem o som seco de um taco de baseball acertando os joelhos da prepotência. Não sangra por fora, mas estilhaça por dentro.
Último ato
E o povo? Eles observam. Alguns rindo, outros descrentes, mas todos com aquela sensação inconfundível de que a farsa foi descoberta. O justiceiro virou réu do próprio ego. Não haverá prisão perpétua, talvez nem punição à altura, mas o escárnio será eterno. E, cá entre nós, democracia não combina com ameaça, nem com censura, nem com a perseguição de quem pensa diferente. Combina com liberdade, com debate e com responsabilidade, e olha, quando o palco desaba e a luz apaga, só sobra o homem. E ele é bem menor do que jurava ser.
Zé da Flauta - Colunista do: PRESSÃO POLÍTICA
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